segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

pela pele

pele: superfície de contato, manto

pelos poros, respiração
pelas dobras, transpiração
pelas curvas... formigação



domingo, 20 de fevereiro de 2011

palavra germinada



palavra é semeadura
dobra que molha o mundo

em cada grão, uma vida
um encontro

cai na terra, palavra falada
vira broto, palavra germinada

óvulo da terra

palavra é fertilizante
a adubar os vasos sangüíneos dos corpos



quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

feridas


apagava suas memórias pouco a pouco 
esvaziamento fatídico do peso que insistia em permanecer 
sentia que assim abria espaço para mais vida 

liberdade 
palavra desbotada, cansada, rasgada, maltrapilha, que, apesar da insistência histórica, 
ainda fazia sentido... 

fazia sen-ti-do. 
era sentida. no corpo, nos olhos, nos braços, nas pernas.

vontade de correr. correr, correr, correr, até o corpo esgotar.
vontade de suor, de respiração ofegante, de corpo em movimento, de horizonte longínquo.

abertura, 
que os edifícios da rua, e do seu coração, não lhe permitiam sentir.

- cadê o céu?!
céu da boca. céu da terra. céu da alma.

rasgo, rasgo, rasgo. 
rasga tudo. 
rasga a roupa, rasga a pele. rasga a palavra. 

como se fosse a superfície a sua prisão.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

corpo encharcado


de um corpo o que se tem encharca.
a alma. o coração. o pensamento.
dentro-fora, um rio correndo, transbordando.
não é que não se tenha margem, tem-se.
é, outrossim, que o que margea é fluxo também,
cavocado pelo ímpeto das águas.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

bifurcando-se




anotação

segunda-feira, com chuva – nem forte, nem fraca, mas contínua – batendo no teto de zinco do vizinho. o despertador toca. cinco e meia da manhã. “ninguém deveria acordar às cinco e meia da manhã”. um pé chega ao chão, depois o outro. lançando um olhar panorâmico pelo quarto, percebe que a luz que vem da rua está mais densa que o usual. aos poucos, o som da chuva vai se diferenciando no monobloco uníssono daquela manhã, ao mesmo tempo em que o corpo, quase desperto, arrepia-se com a brisa fina e gelada vinda das frestas da veneziana.

segunda-feira, com chuva, às cinco e meia da manhã (ninguém deveria acordar às cinco e meia da manhã). em direção ao banheiro, passa a mão no interruptor. nada acontece. liga-desliga, liga-desliga. faltou luz. corpo-sonolento, enfim, acorda. - porra!

segunda-feira, com chuva, às cinco e meia da manhã e banho frio. corpo-sonolento-agora-desperto paralisa por um milésimo de segundo. sentindo os efeitos da contrariedade, convoca a razão. silenciosamente, põe-se a caminhar em direção à cozinha para preparar o seu café da manhã.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

vôo bailarino



na dança, o movimento leva consigo o corpo.
movimento dançado que nunca se esgota, abrindo espaço para o infinito.

silêncio.

o bailarino deve fazer silêncio no seu corpo.
suspensão do concreto para entrar em outra intensidade.

ponto zero do movimento.

transportado pelo movimento, o bailarino experimenta o seu corpo no espaço - como um peixe na água ou um pássaro no ar.

(fonte: josé gil)






a vela chora

chama arde-olho produz lágrima



litoraneidade

litoral, espaço entre dois territórios de matérias heterogêneas. intersecção.
ao contrário das fronteiras, mantém-se em movimento, indo e vindo, balançando o equilíbrio, provocando dança, fazendo encosta.

litoral para mim
litoral em mim
litoral enfim



poesia é voar fora da asa

(manoel de barros)